Uma garota caminhava em direção a um rio, trazendo algo em suas mãos. Ela andava lentamente, absorta em seus pensamentos, quem olhasse para ela perceberia que mesmo estando lá fisicamente, sua mente estava em outro tempo e até em outro lugar. Em seu olhar uma mistura de tristeza, confusão e lágrimas. Seguindo com seus passos curtos e vagarosos ela chega à beira do rio e fica parada, imóvel contemplando a água que flui calmamente. Após alguns instantes ela senta-se com o recipiente junto a seu corpo. Ela olha para o recipiente como se fosse uma foto ou um quadro que lhe trouxesse muitas lembranças. De repente a garota começa a falar, como se houvesse alguém ao seu lado: “Bom, finalmente chegou a hora do nosso adeus final. Poxa, Bernardo, mais uma despedida, mais uma tortuosa e triste despedida. Não foi suficiente quando você foi à Europa naquela viagem idiota que você tanto quis fazer. Mochilão… Você imagina o quanto eu senti sua falta? Toda noite eu me trancava no meu quarto e chorava, cheguei a um ponto em que precisei tomar antidepressivos… Bom, aí está uma coisa que você não sabia, né? Você que parecia me conhecer melhor que eu mesma. Era incrível como você parecia sempre dizer a coisa certa, e agora cadê você para me ajudar, para me confortar, dizer palavras amigas que me façam sentir melhor? Você está em minhas mãos, dentro de um pote, só pó, mas é você.”
A garota começa a ficar ofegante, respirando mais rapidamente, abaixa a cabeça e começa a soluçar. No meio das lágrimas tenta continuar o monólogo solitário. “Eu sempre precisei de você, sempre te amei e por isso quis ter você ao meu lado para sempre, mas é engraçado, esse “para sempre”é sempre tão curto, as pessoas vivem fazendo promessas, falando que é para sempre mas depois de um tempo essas promessas deixam de fazer sentido. Você mesmo tinha me feito uma promessa “Vou ficar ao seu lado para sempre” e agora olha como estão as coisas. Você está em outro lugar e eu continuo aqui. Você nunca pareceu pertencer a este mundo, você era iluminado demais para esse mundo ignorante. Às vezes você me falava as coisas, mas eu nunca conseguia entender. E você sempre teve razão nas coisas que você dizia, pena que agora eu não tenho mais você ao meu lado para dizer tantas coisas bonitas. Lembro até agora de uma vez em que estávamos sentados aqui nesse mesmo lugar, foi o dia do nosso primeiro beijo. A gente estava conversando e de repente você pára de falar e olha fixamente para algum lugar. Aquele silêncio me incomodou, como sempre o silêncio me incomoda, até mesmo agora, eu não paro de falar…
Mas me lembro de você dizendo: “ O mundo seria muito mais simples se as pessoas tivessem noção de como a vida é curta, elas iriam deixar de complicar e se preocupar com tantas coisas que são simples. Mas o ser humano sempre acha que é imortal, acha que a vida é eterna.” Na hora para mim não fez o menor sentido, mas você além de saber isso, vivenciava, você aproveitava o tempo todo, até parecia que você sabia esse seu destino.” Gabriela abaixa a cabeça e começa a chorar.
“Eu pensava mesmo que a gente ia ficar juntos, que íamos nos casar, ter filhos. Mas o destino não quis. E agora não sei se agradeço por você ter entrado na minha vida e proporcionado tanto ou se te amaldiçoou por toda essa dor que eu estou sentido e pela dor que senti todo o tempo que você esteve longe de mim. Eu queria tanto agradecer por todo amor que você me deu, por todos os momentos de felicidade e alegria que passamos juntos. Você sempre me tratou com muito respeito e carinho, Bernardo. Você me tratava como se eu fosse especial, sendo que quem era especial era você. E eu nunca tinha percebido isso. Mas agora vejo, e com uma clareza impressionante. Eu me pergunto ainda como você tinha tanta paciência para agüentar todas as minha reclamações e queixas. E foram tantas. Você sempre tão paciente, quantas vezes você não enxugou minhas lágrimas? Você era tudo que eu procurava em um garoto e eu não via. Tudo dependia de você. Você teve que tomar a iniciativa, pois eu era muito burra e não percebia o cara maravilhoso que você sempre foi .” Neste momento ela não se segura e desaba em lágrimas, abraça os joelhos e se balança lentamente. Então Gabriela levanta a cabeça e grita: “POR QUÊ? AI, MEU DEUS! POR QUE VOCÊ TEVE QUE TIRAR O BERNARDO DE MIM? O QUE EU FIZ PARA MERECER ISSO?”
Gabriela pensava, onde estava Bernardo nessa hora que ela tanto precisava, era a primeira vez que ela passava por uma situação daquele tipo, uma perda como aquela. Gabriela não sabia o que fazer, era como se tivesse tirado seu chão, tudo parecia ter desabado, tudo perdera o sentido para ela. Gabriela se lembra claramente da mãe batendo à porta e entrando em seu quarto com um olhar pesado e preocupado. As palavras duras, batendo como uma bala que perfura seu coração. Após aquela frase Gabriela nunca mais seria a mesma. Depois daquele dia Gabriela não soube mais o que era sorrir.